Com a globalização, eventos do outro lado do mundo têm impacto direto na produção da industrial brasileira. Entretanto, a pandemia de Covid-19 parece trazer instabilidades muito mais graves que as ocasionadas por terremotos, tempestades ou guerras comerciais. Os efeitos na cadeia de suprimentos na crise, estimam os especialistas, serão ainda maiores que os estragos provocados pelo colapso do banco Lehman Brothers, em 2008.
Muito da apreensão vem do fato de a China ter sido o país mais afetado, até então, pelo coronavírus. Afinal, é o maior exportador do mundo, US$2,09 trilhões, e a paralisação das suas fábricas por conta das medidas restritivas que visam conter o avanço do vírus prejudicam a economia global.
Em relação ao Brasil, as tensões aumentam devido aos atritos diplomáticos entre os dois países em meio à pandemia. A China é o maior comprador de soja, quase 80% da produção nacional, e vem ameaçando cortes frente as hostilidades do governo brasileiro. Portanto, mesmo o agronegócio, que em um primeiro momento, tinha previsões de passar sem grandes problemas pela crise mundial, agora vive momentos de expectativa.
Empresas que ainda não haviam implementado planos de gerenciamento de risco, hoje, se veem sem saber como a cadeia de suprimentos irá se comportar na crise. Deste modo, todo o planejamento de produção fica comprometido.
Neste artigo, vamos explicar melhor os impactos da pandemia na cadeia de suprimentos e dar algumas dicas do que fazer para reduzir os efeitos. Acompanhe.
O “efeito dominó” da cadeia de suprimentos na crise
Mesmo em cenários normais, a correta gestão da cadeia de suprimentos é uma tarefa complexa. Isso porque ela se divide em subcadeias, interligadas entre si. Portanto, o colapso de um elo pode afetar toda a corrente. Esse problema já se revelava antes da pandemia de coronavírus e estudiosos do setor de logística já buscavam formas de mitigar os danos de uma possível ruptura.
No Brasil, a crise na cadeia de suprimentos afeta tanto os importadores quanto os exportadores. Os primeiros, claro, sofrem com os atrasos na chegada de insumos vindos, principalmente, da China. Um bom exemplo são os defensivos agrícolas e fertilizantes, que podem comprometer a safra de 2021. Já para quem exporta os efeitos são diferentes, mas igualmente significativos: portos fechados, falta de contêineres e caminhões parados.
A cadeia de suprimentos brasileira tem características que a tornam frágil, como:
- foco em poucos centros de produção;
- manutenção baixa dos estoques;
- gestão, majoritariamente, manual.
A crise evidencia um problema que não é exclusividade do Brasil: a dependência da China para o abastecimento. Bruno Le Maire, ministro da Economia da França, disse considerar essa sujeição “irresponsável e irracional” e vê na pandemia uma oportunidade para que todo o mundo repense essa relação.
A vulnerabilidade da cadeia de suprimentos na crise mostra que é preciso repensar o modelo trabalhado até então. Segundo o especialista da Universidade do Sul da Califórnia, Nick Veyas, o foco deve se voltar para a diversificação, controle de riscos e resiliência, deixando os custos em segundo plano.
Como minimizar os efeitos das crises sobre a cadeia de abastecimento
Competir com a China não é tarefa fácil. O país criou uma grande infraestrutura e relações que possibilitam o câmbio de suprimentos com o resto do globo, além de ter portos e aeroportos voltados, unicamente, para a exportação. Entretanto, a crise obriga todos os setores da economia repensar sua cadeia de abastecimentos.
A curto prazo, infelizmente, as projeções não são otimistas. De acordo com o chefe de pesquisa econômica global do Bank of America, Ethan Harris, o choque das cadeias de suprimentos na crise do coronavírus é amplo, profundo e ainda não se sabe o que pode acontecer a longo prazo. Ele estima que as fábricas chinesas continuarão fechadas, pelo menos, até maio.
Uma das ações que podem mitigar os efeitos da pandemia vem da Alemanha. No país, empresas têm reunido forças-tarefas em busca de possíveis interrupções na cadeia de suprimentos. Essas empresas têm trabalhado junto aos fornecedores chineses na identificação de materiais escassos e no desenvolvimento de planos emergenciais. Juntos, atuam na busca de novos provedores de insumos fora da China, especialmente, na Europa.
O que especialistas de todo o mundo orientam é, justamente, o que vem sendo feito no país Europeu: a busca por outros fornecedores. Entretanto, essa medida pode ser paliativa e é preciso tomar a crise de COVID-19 como uma prova de que uma cadeia de suprimentos paralisada ou interrompida pode comprometer gravemente até mesmo os negócios mais sólidos.
As lições da pandemia sobre a cadeia de suprimentos
Embora a crise já esteja acontecendo há algumas semanas, poucos se arriscam a dizer o que será do futuro. É delicado prever os próximos meses, visto que ainda não se sabe qual a extensão e duração da pandemia. O fato é que ela escancarou a fragilidade de indústrias de todos os segmentos e vem forçando as lideranças a rever muitas de suas estratégias.
É fundamental que gestores dediquem tempo e estudo sobre todas as cadeias essenciais para o negócio e aprimorem os Planos de Continuidade dos Negócios (PCN). Saber de antemão qual elo tem maior probabilidade de romper, provocando uma crise no abastecimento de insumos, por exemplo, abre espaço para a busca de novos fornecedores ou insumos substitutos.
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Vale lembrar que, a curto prazo, por conta da demanda, mesmo os fornecedores alternativos podem estar indisponíveis ou também sofrendo limitações por conta das medidas restritivas. Além disso, é natural que o preço nesses novos provedores sejam mais altos, o que reforça que esta deve ser uma solução de curto prazo. De todo modo, ampliar a gama de parceiros pode deixar o negócio mais seguro em outros momentos, caso uma nova crise irrompa.
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