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Crise no supply chain: 5 lições da greve dos caminhoneiros

A greve dos caminhoneiros foi um movimento que começou no dia 18 de maio deste ano e, já no dia 21, houve a confirmação de que ela havia se instaurado a nível nacional.

Como já é do conhecimento de todos, isso acarretou uma série de problemas para os mais variados setores de mercado — e prejudicou empresas de todos os portes, gerando paradas na produção e desabastecimento de prateleiras, por exemplo.

Porém, apesar de todos os pontos negativos, esse episódio serviu para que algumas lições fossem aprendidas e para gerar mais conhecimento a respeito da atuação em momentos de crise. Pensando nisso, listamos 5 desses ensinamentos que podem ser absorvidos. Continue a leitura e conheça-os!

1. Reconhecimento do momento de crise

Esse é um dos pontos fundamentais que devem ser levados para momentos futuros. Antes de qualquer coisa, é necessário ter a consciência de que a situação não está sob o controle da gestão ou sequer da empresa.  Esse reconhecimento da possibilidade de haver uma crise ajuda na antecipação dos problemas e em uma tomada de decisão mais eficaz.

Contar com equipes engajadas é essencial para que a comunicação seja fluida e para manter o mercado abastecido — ou que se consiga os insumos necessários para alimentar a produção. Aí sim, consegue-se transmitir para os clientes a mensagem de que a situação está controlada e sendo monitorada de perto pelos colaboradores, gestores e diretores.

No caso da PETRONAS, uma multinacional, o gerente de Planejamento de Vendas e Operações nas Américas (S&OP Manager Americas), Frederico Peixoto, afirma que essa segurança precisou ser repassada para a Malásia, onde fica a sede da empresa.

Definição de responsabilidades

Outra questão que merece destaque é a definição de uma equipe responsável por lidar com essa situação. Aqui, inclui-se especialmente pessoas dedicadas às questões judiciais, voltadas para a realização de contatos com órgãos nacionais (como a Polícia Federal) e outros escritórios, a fim de identificar as melhores práticas do mercado — e o que as grandes empresas têm feito para contornar a situação.

Atualização de informações

Também deve-se buscar por informações atualizadas em primeira mão. Ter acesso a elas ajuda a sair na frente na hora de elaborar um plano de ação, além de cuidar do bem-estar das pessoas ligadas à empresa.

De acordo com Frederico Peixoto:

Cada pessoa tem uma responsabilidade dentro da organização. A instalação de um comitê de crise e o reconhecimento desse momento é fundamental para que os profissionais não gastem tempo com ações ineficientes dentro da empresa, além de garantir o bem-estar dos colaboradores.

2. Planejamento do estoque

É muito comum haver notícias ou rumores de uma greve na mídia ou, principalmente, nas redes sociais. Quando essas informações chegam, é preciso se preparar para os cenários que podem surgir. Um aumento no diesel, por exemplo, pode sinalizar uma possível crise.

Nesse momento, é preciso planejar e agir de antemão, ou seja, antecipar pedidos com os fornecedores e estocar mais itens para atender a um período maior. Isso vale tanto para o ambiente interno (produção) quanto para o externo (atendimento aos clientes).

Frederico explica que:

É preciso estar preparado, porque geralmente esses movimentos não conseguem se sustentar por 20 ou 30 dias. Acredito que essa tenha sido a pior crise que enfrentamos e durou cerca de 10 dias.

Se você tem uma política de estoque satisfeita para todos os seus itens, 10 dias de crise (em teoria) não geraria tanto impacto em uma cadeia mais regular. Então, se conseguimos antecipar, fazer um planejamento produtivo com hora extra, adiantar os pedidos e melhorar a produtividade, é possível mitigar os problemas.

Por outro lado, os clientes também precisam predizer suas demandas e rever a política de estoque, de forma que consigam garantir a disponibilidade dos itens para esses períodos. É importante que todos fiquem bem atentos ao estoque de segurança e busquem trabalhar com uma quantidade mínima maior.

3. Redimensionamento da produção

A priorização dos produtos que garantem a capacidade produtiva e o atendimento aos clientes deve ser feita nos momentos de crise, como a greve dos caminhoneiros. Isso é de suma importância para garantir o bom funcionamento de toda a cadeia de abastecimento. Como Peixoto afirma:

Essa puxada de matéria-prima e a antecipação de horas extras é essencial nesses momentos. A antecipação de matérias-primas, ligada à antecipação de horas extras e à antecipação de pedidos dos clientes, possibilita a entrega antecipada do produto.

Além disso, também deve-se ter a preocupação de priorizar os itens que trazem maior retorno financeiro para a empresa.

4. Otimização do espaço físico para o armazenamento da produção

Com o redimensionamento da produção, é bem provável que os níveis de estoque fiquem acima do normal ou até mesmo da capacidade de armazenamento da empresa.

Isso se traduz na necessidade de otimizar o espaço físico para acondicionar esses itens — utilizar ao máximo as posições disponíveis e adotar um mezanino temporário são algumas soluções.

Contar com transportadoras de emergência

Nesse sentido, outra lição importante que ficou é o fechamento de parcerias com transportadoras para auxiliar no armazenamento interno da produção.

Esses operadores logísticos ajudam a fornecer os caminhões para que a movimentação dos itens seja realizada, além de alocar a produção excedente para esses períodos críticos.

Além disso, é muito importante realizar negociações com transportadoras para atendimento emergencial — o chamado frete spot. Peixoto afirma que:

É preciso abrir o leque de opções para transporte, para que nós possamos escoar os produtos para nossos clientes de forma mais rápida e assertiva. Aumentar esse leque é muito importante.

A PETRONAS apostou na estratégia de levar o material para as transportadoras e deixar os itens armazenados dentro das instalações delas. Isso proporcionou uma certa tranquilidade, visto que, assim que as rodovias foram liberadas, os produtos já foram entregues. Apesar de isso não ter sido 100% com os clientes em termos de visibilidade, a nossa imagem em relação ao pós-crise não foi afetada.

Isso foi possível devido à antecipação, que permitiu vincular certas entregas a esses spots, aumentando o portfólio de transporte. A partir daí, foi necessário apenas agendar e coordenar as entregas para os clientes.

5. Plano de ação (e custos) para escoar os produtos pós-greve

Quando chega o momento pós-crise, o primeiro esforço está voltado para enviar os produtos para os clientes o mais rápido possível, o que acarreta custos extras — principalmente com a contratação dos fretes spot. Isso vale também para o recebimento de matéria-prima.

Dessa forma, deve-se entender que esse é um movimento temporário e que, para compensar os gastos, pode-se trabalhar com a contenção de despesas em outros setores.

A lição que fica é a de ter um pouco mais de folga no budget e prever possíveis aumentos nos custos para lidar com o escoamento dos produtos. Além disso, estabelecer contratos bem definidos com algumas transportadoras também ajuda a reduzir o impacto dos imprevistos.

A greve dos caminhoneiros, apesar de ter gerado muitas situações negativas para as empresas e seus clientes, trouxe a oportunidade de aprender a atuar e a contornar as situações de crise, minimizando os impactos causados por elas e buscando alternativas mais eficazes.

Agora que você viu o que a greve proporcionou (além dos problemas), quer aproveitar para saber quais fatores influenciam o preço do petróleo? Então, confira nosso artigo sobre o assunto!

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